Meditação e credibilidade – Parte II

Os efeitos fisiológicos decorrentes da prática meditativa podem ser observados nos sistemas respiratório, cardiovascular, imunológico e digestório.

Sistema respiratório

A respiração é a base fundamental para a prática da meditação.

É através de uma respiração calma e focada que se consegue entrar no estado meditativo e permanecer nele pelo tempo que se propõe.

A respiração diafragmática, ou respiração de raiz, levará com maior eficiência ao estado meditativo, pois proporciona uma condição de calma.

Para saber se a respiração está adequada, deve-se observar se ela não está alta, ou seja, a respiração sai de cima do peito e vem para a região do abdome, onde colocando a mão sobre a barriga, percebe-se o movimento do abdome levantando ao inspirar e diminuindo de volume ao expirar. Sempre pelo nariz.

É pela respiração que as funções vitais são estabilizadas levando o corpo à homeostasia, que é o funcionamento harmônico e equilibrado dos elementos fisiológicos e consequentemente do metabolismo corporal.

Sistema cardiovascular ou cardíaco

Os primeiros estudos realizados pelo Dr. Herbert Benson, do Instituto Mente e Corpo da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, estavam focados em estresse e efeitos cardíacos. As pesquisas por ele desenvolvidas evidenciaram diminuição de pressão arterial num grupo praticante de meditação.

O controle do ritmo cardíaco depende da fluidez de determinados hormônios, como por exemplo a adrenalina. Esses hormônios são aumentados em situação de estresse, acelerando o batimento cardíaco e a respiração.

Meditar reduz consideravelmente a movimentação desses hormônios ligados ao estresse na circulação sanguínea e ainda estimula no cérebro a produção de endorfinas, que são hormônios de ação analgésica, gerando bem-estar.

Uma pesquisa efetuada na Universidade de Ciências da Saúde da Geórgia conseguiu melhorar a sobrecarga cardíaca de 31 adolescentes hipertensos. Para chegar a esses resultados, os voluntários mudaram apenas uma coisa em suas rotinas – meditaram duas vezes ao dia por 15 minutos, ao longo de 4 meses.

Estudos similares foram feitos na Universidade da Califórnia. E no Brasil, pelo Dr. Fernando Bignardi, com um grupo de idosos de São Mateus, na periferia de São Paulo. Ele afirma que “no caso da hipertensão arterial, desenvolve-se uma atitude mental ‘preocupada’. A pessoa não vive no presente. Essa postura muda o ritmo, perdem-se as pausas respiratórias, há alterações no metabolismo, o que possibilita a implantação de doenças cardiovasculares”.

Sistema imunológico

O sistema imunológico tem os glóbulos brancos ou leucócitos como células de defesa do organismo. Essas células precisam de um aporte energético considerável para seu funcionamento, sobre o qual está relacionada a respiração. É por meio do oxigênio que a circulação sanguínea proporciona a chegada de nutrientes até as células.

Com a meditação, a ação da enzima telomerase é intensificada. Essa enzima está diretamente ligada ao desenvolvimento ou não do câncer. Os telômeros são estruturas presentes no DNA que participam da regulação da expressão genética e controlam a capacidade replicativa das células humanas.

Sistema digestório

O sistema digestório possui um sistema nervoso próprio, denominado intrínseco, que também é regulado pelo SNA (sistema nervoso autônomo).

Uma quantidade significativa de hormônios regula as funções do trato gastrointestinal. Sintomas como acidez, dores abdominais ou até mesmo transtornos alimentares podem ser aliviados com a prática meditativa através da calma e diminuição de ansiedade.

Mas, para o Dr. Fernando Bignardi, a explicação que inclui digestão é mais abrangente e humanizada. “Costumo dizer que, para tratar a úlcera do vovô, você precisa medicar o genro”, ele explica. “Mas nossa cultura contemporânea nos leva para fora e não para dentro. Então perdemos referenciais intrínsecos em que você para e se pergunta: o que eu preciso comer hoje? Em vez disso, vai comer o que a revista Veja ou o Google ou o Fantástico disse que era bom. Mas cada pessoa é um sistema em si, então as minhas necessidades são diferentes das suas, das dele, etc.”  E continua: “o corpo pede, mas você precisa ouvir o que o corpo está pedindo. Você precisa estar presente. Então aquela pessoa ‘pré-ocupada’ não está em si – está no futuro”.


Valéria Nunes de Oliveira – Pós-graduada em docência e prática da meditação pela USCS – Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Autora da monografia Meditação e Credibilidade: estudos científicos.

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