Fitoterapia no tratamento de acne vulgar

A acne é uma doença inflamatória crônica da pele, que faz com que as manchas ocorram simultaneamente em várias áreas do corpo, incluindo rosto, pescoço, costas e tórax.

Além dos tratamentos comumente utilizados ​​atualmente, os medicamentos complementares e alternativos (MCA) são de interesse crescente para as pessoas que os usam com frequência em adição aos tratamentos convencionais como terapias aditivas ou únicas para tratar a acne.

Ela afeta mais comumente áreas onde as glândulas sebáceas são maiores e mais abundantes, como por exemplo a face, a parte anterior do tronco e a parte superior das costas.

Comedões, também conhecidos como cravos, que são poros dilatados com um tampão de queratina, caracterizam a acne leve. Whiteheads (pápulas pequenas, de cor creme, em forma de cúpula), pápulas vermelhas, pústulas ou cistos podem ser encontrados na acne moderada ou grave.

As cicatrizes, tanto as da pele quanto as emocionais, podem durar a vida toda e causar problemas importantes de ordem psicológica e psicossocial.

Formação e classificação

O processo de formação da acne consiste nas etapas descritas a seguir (Figura 1).

Comedogênese ou hiperqueratinização: fase em que se formam as lesões chamadas de microcomedões e comedões, popularmente denominados de cravos. Nessa etapa, ocorre a descamação de células queratinizadas que se acumulam nos folículos, formando uma espécie de tampão.

Produção de sebo: as glândulas sebáceas são acionadas por hormônios andrógenos (hormônios relacionados com características masculinas) e inicia-se a produção de sebo, que nada mais é do que uma secreção rica em lipídeos. O sebo produzido fica retido em virtude da presença do cômedo.

Colonização bacteriana: na superfície da pele e nos ductos das glândulas sebáceas, pode ocorrer a multiplicação de bactérias. O organismo mais importante nesse processo é o Propionibacterium acnes. Entretanto, o Staphylococcus epidermidis e Malassezia furfur também podem ser observados.

Inflamação: a multiplicação de bactérias causa a inflamação da pele. O Propionibacterium acnes, por exemplo, está relacionado com a produção de enzimas que atuam no processo de inflamação.

Acne - etapas de formação
Figura 1 – Processo de formação da acne

Acne é uma condição comum que afeta 80% dos adolescentes (mais comumente a partir dos 12 anos de idade), mas também pode atingir 54% das mulheres adultas e 40% dos homens adultos (a partir dos 20 anos de idade).

Alguns fatores como a colonização bacteriana, produção de sebo, produção de hormônio, hiperqueratinizações foliculares e inflamação contribuem para o seu aparecimento.

De acordo com o tipo de lesão, a acne pode ser classificada em quatro categorias principais, como mostra a Figura 2.

Acnes - tipos de lesões
Figura 2 – Classificação das acnes de acordo com o tipo de lesão

Tratamento da acne com medicina tradicional chinesa

O tratamento da acne visa a diminuir as lesões inflamatórias ou não, melhorar a aparência, prevenir ou reduzir os potenciais efeitos adversos e minimizar qualquer cicatriz.

A MCA refere-se a terapias que são usadas além do tratamento convencional, sendo muitas delas não cientificamente comprovadas. A “terapia complementar” é geralmente utilizada em adição aos tratamentos convencionais, enquanto a “terapia alternativa” é frequentemente aplicada em substituição ao tratamento convencional.

Em 1992, o Office of Alternative Medicine, nos Estados Unidos, classificou as terapias complementares, usando a sistematização estabelecida por mandato do Congresso dos EUA nos National Institutes of Health. De acordo com essa classificação, as terapias complementares são divididas nas seguintes categorias:

  • Dieta e nutrição (por exemplo, macrobióticos, dieta de Gerson, antioxidantes)
  • Intervenções mente-corpo (por exemplo, meditação, imaginação, hipnose, grupos de apoio)
  • Bioeletromagnetismo (por exemplo, eletromagnética, eletroacupuntura)
  • Remédios tradicionais e populares (por exemplo, naturopatia, ayurveda, medicina tradicional chinesa, homeopatia)
  • Tratamentos farmacológicos e biológicos (por exemplo, antineoplaston, terapia de quelação, terapia de imunoaumento, cartilagem de tubarão)
  • Métodos manuais de cura (por exemplo, massagem, quiropraxia, toque terapêutico)
  • Fitoterapia.

As medicinas complementares e alternativas são um subconjunto significativo de práticas não integrantes do atendimento ocidental convencional, mas usadas pelas pessoas em suas decisões de saúde. Embora às vezes mesmo sem explicação biomédica, algumas delas (fitoterapia, dietoterapia, acupuntura) tornaram-se amplamente aceitas, mas outras, como as intervenções ligadas à teoria dos humores (um termo antigo para descrever os líquidos dentro do corpo), cujo exemplo foi a “liberação” do sangue como forma de tratamento, e a terapia de rádio desapareceram silenciosamente.

A medicina tradicional chinesa (MTC), que inclui a fitoterapia, acupuntura, moxabustão, massagem, terapia de ventosa, tai chi chuan e terapia dietética, é um dos componentes mais importantes das medicinas complementares e alternativas.

Na fitoterapia chinesa, as terapias manuais de cura (como acupuntura e massagem) e outros remédios tradicionais e populares podem seguir mecanismos semelhantes no tratamento da acne.

De acordo com a teoria da MTC, vários fatores podem causar acne, incluindo superaquecimento do pulmão ou estômago, umidade e calor tóxico com êxtase de sangue e estagnação do Qi e sangue. À medida que a condição torna-se prolongada, o calor pode subir e alojar-se na pele e nos tecidos, produzindo as lesões.

Todas as terapias da MTC acima citadas podem ajudar o corpo a regular o Qi e o sangue, eliminar a umidade, aliviar a toxicidade do calor e aumentar a função imunológica para melhorar a remissão da acne.

Alguns estudos mencionam que a acupuntura pode estimular e equilibrar os níveis de andrógenos para inibir a secreção excessiva da glândula sebácea.

Dietoterapia

Geralmente, é recomendado que as pessoas com acne restrinjam o consumo de chocolate e de alimentos oleosos ou gordurosos. Um estudo concluiu que alguns componentes das dietas ocidentais, particularmente produtos lácteos, podem estar associados a um risco maior de desenvolvimento de acne.

Algumas pesquisas indicam que a predisposição genética e as influências hormonais desempenham um papel mais importante na acne do que a dieta. No entanto, apesar da regulação genética da excreção de sebo e de outros determinantes da acne, a dieta pode atuar como um modificador da expressão do gene, tornando-se responsável pelo aumento do risco de acne.

Argilas e óleos essenciais

Os efeitos de outros tipos de terapias e medicamentos complementares no tratamento da acne não estão claros atualmente devido a evidências insuficientes.

Os tratamentos comumente usados ​​visam a reduzir o número de lesões inflamatórias, inibir os comedões, suprimir o crescimento de Propionibacterium acne ou reduzir o tamanho das glândulas sebáceas e a atividade secretora.

Devido à resposta inadequada ao tratamento convencional ou aos potenciais efeitos colaterais dos tratamentos tópicos atuais para acne, há um interesse crescente no uso de terapias complementares como adjuvantes ou como terapias únicas isoladamente. Na América, 9% das pessoas relataram ter problemas de pele nos últimos 12 meses, 7% afirmaram que usaram um medicamento complementar e 2% disseram ter consultado um médico complementar para sua condição.

Os ingredientes naturais têm sido utilizados nos cuidados com a pele, em função de sua atividade cicatrizante ou preventiva dos sinais de envelhecimento. Esses componentes proporcionam alternativas aos usuários frustrados com efeitos adversos de outros produtos e ávidos por ingredientes mais seguros e ecológicos. Esses usuários, nomeados como consumidores “verdes”, são preocupados com o meio ambiente e consomem produtos que apresentam particularidades quanto à sustentabilidade e segurança.

A aplicação de argilas para o tratamento de acne é muito utilizada, pois elas são fontes para o enriquecimento natural da pele, sendo um ingrediente 100% natural, rico em silício e zinco e oferecendo atividade seborreguladora (adstringente), purificadora e absorvente. A coloração dá-se através da presença de óxido de ferro, atuando em sinergia com outros minerais presentes.

A melaleuca tem sido utilizada há vários séculos como antisséptico local para tratar diversas desordens na pele. Possui efeito antibacteriano, antifúngico, antiviral, anti-inflamatório e analgésico.

O cipreste também possui ação antisséptica, que aumenta a eficácia do óleo, criando uma sinergia especial que pode ser aproveitada em problemas das glândulas sebáceas e em áreas inflamadas e infeccionadas. Desse modo, por atuar na inflamação, o óleo essencial de cipreste torna-se um aliado para o combate de fatores responsáveis pela formação da acne.

Já a lavanda tem ação anti-inflamatória, cicatrizante, antisséptica, regeneradora celular e regeneradora da pele, por se tratar de um poderoso óleo que atua no processo de cicatrização das lesões.


Mari Uyeda – Mestre em Ciências da Saúde, nutricionista e professora do Departamento de Ciências da Saúde da Pós-graduação da Universidade Nove de Julho.

Ana Laura Uyeda Fructuoso – Estudante do Fundamental I, no Colégio Stágio, em São Bernardo do Campo – SP.