Efeitos da reflexologia podal na qualidade do sono

A reflexologia podal é uma prática muita antiga, que pode ser aplicada em pessoas de qualquer idade, proporcionando inúmeros benefícios para a qualidade de vida.

As culturas do Oriente sempre deram importância aos pés. Vários estudos indicam que a reflexologia podal já era praticada na Índia e na China há cerca de cinco mil anos, apesar do primeiro registo sobre seu uso datar de 2.330 a.C., no Egito.

O toque e a pressão nos pés eram usados como meio de tratamento e prevenção, restabelecendo e mantendo o equilíbrio e o fluxo de energia no organismo.

No Ocidente, a reflexologia podal começou a ser mais desenvolvida a partir do século XX.

Em 1890, o neurologista Henry Head apresentou a ligação existente entre doenças viscerais e a sensibilidade em certas áreas da pele. Em 1906, Charles Sherrington, neurologista, patologista e ganhador do Prémio Nobel, publicou um artigo científico demonstrando como o sistema nervoso responde a estímulos de terminações nervosas específicas, gerando alterações internas no corpo e como o corpo “ajusta-se” à pressão nas áreas reflexas.

O Dr. William Fitzgerald (1872-1942), pai da “terapia zonal” (divisão do corpo em 10 zonas verticais), usava com sucesso a pressão em pontos específicos para anestesiar os seus pacientes sujeitos a cirurgias de nariz e garganta.

Nos anos 30 do século XX, Eunice Ingham, com base na terapia zonal e em suas experiências, mapeou todos os órgãos e sistemas do corpo nos pés, dando origem à reflexologia tal como hoje é conhecida.

Desde então, profissionais da área de medicina e saúde têm desenvolvido estudos sobre a reflexologia, contribuindo para o aprimoramento dos mapas de localização de órgãos e sistemas do organismo nos pés e das técnicas de pressão, com comprovados efeitos na resolução de patologias, na homeostasia e no bem-estar geral.

Por isso, atualmente, em diversos países, essa terapia é cada vez mais integrada com a medicina convencional e nos tratamentos hospitalares.

O corpo refletido nos pés

A reflexologia podal tem por base a premissa de que o corpo encontra-se refletido nos pés, ou seja, eles espelham a totalidade do organismo da pessoa.

O terapeuta de reflexologia vê, nos pés, um mapa do corpo dividido em áreas reflexas, as quais correspondem a determinados órgãos e sistemas do organismo.

Através da sua observação, é possível detectar sinais que podem indiciar não só desequilíbrios físicos, mas também mentais, emocionais ou energéticos, que poderão então ser diagnosticados por profissionais da área de saúde.

Assim, a reflexologia contribui para a detecção de desequilíbrios e patologias. Mas, acima de tudo, sua aplicação promove a homeostasia do organismo, já que por meio da estimulação adequada cria as condições necessárias à autorregeneração do corpo.

A reflexologia podal é aplicada através de técnicas específicas de pressão nos pés que, ao estimularem determinadas áreas reflexas, irão desencadear uma resposta nos órgãos e/ou sistemas correspondentes.

Mas como funciona? Os nervos aferentes, que estão presentes nos pés e são sensíveis a estímulos, desencadeiam impulsos nervosos no sistema nervoso central, que por sua vez atingem áreas específicas do cérebro, onde são interpretados e refletidos em órgãos e/ou sistemas determinados do organismo.

Reflexologia e distúrbios do sono

Um dos benefícios proporcionados pela reflexologia podal é a melhora na qualidade do sono, fator que é essencial para a saúde e a qualidade de vida.

É durante o sono que ocorrem diversos processos metabólicos e outras funções importantes para a regeneração do organismo, tais como o reforço do sistema imunitário e a manutenção da microbiota.

O sistema glinfático, que elimina toxinas e outras substâncias presentes em excesso no cérebro, é 60% mais eficaz durante o sono. Portanto, a ocorrência de desequilíbrios no sono interfere no bom funcionamento desse sistema e na limpeza necessária. Como sintomas, verificam-se, por exemplo, confusão mental, falta de memória, dores de cabeça, cansaço e eventualmente doenças neurodegenerativas.

O sono é regulado pelo hormônio melatonina produzido pela glândula pineal. E, simultaneamente, é durante o sono que a produção desse hormônio atinge o seu nível máximo.

A melatonina tem ainda a função de controlar o ritmo circadiano e de regular a produção de certos hormônios, além de ser um potente antioxidante no cérebro.

Quando a melatonina atinge o seu nível máximo, durante o sono, a leptina (hormônio que controla o apetite) entra no hipotálamo, contribuindo para a mobilização e queima de gordura das reservas e regulação da função da tireoide e das mitocôndrias. Portanto, a qualidade do sono, associada à produção de melatonina, é importante na perda de peso.

É de se referir também que a melatonina, ao entrar no núcleo supraquiasmático (área do hipotálamo), relaxa o cérebro, permitindo a regeneração dos nervos e do sistema nervoso.

A produção de melatonina varia de acordo com a luminosidade. Ela começa a ser elaborada quando o dia escurece, o que ajuda o organismo a se preparar para dormir. Com o nascer do sol e a presença de claridade, a produção de melatonina diminui, indicando ao corpo que é o momento de acordar.

Contudo, hoje em dia existem imensos estímulos luminosos durante a noite, o que pode levar a uma produção menor (ou mais irregular) de melatonina, resultando em dificuldades de adormecer, de manter o sono ou de ter um descanso de qualidade durante o período noturno.

A glândula pineal, por sua vez, é um órgão bastante vulnerável. Situações de estresse ou ansiedade, toxinas e campos eletromagnéticos podem afetar o funcionamento dessa glândula e, consequentemente, a produção de melatonina.

A exposição do organismo humano a produtos químicos tem provocado o encolhimento da glândula pineal. A própria calcificação (acumulação de flúor) reduz o número de suas células (pinealócitos), diminuindo assim a produção de melatonina e acelerando o desenvolvimento de doenças degenerativas.

Cabe salientar ainda que a serotonina – neurotransmissor relacionado com o bem-estar e bom humor e que é produzido essencialmente nos intestinos – é também responsável pela produção de melatonina. Portanto, a insônia também poderá estar relacionada com a falta de serotonina.

No tratamento da qualidade do sono através da reflexologia podal, é importante entender a fisiologia descrita acima (ressaltando que poderão existir mais aspectos), a fim de identificar as eventuais causas que estão na origem de noites mal dormidas (pelo que, sempre que necessário, recomenda-se a realização de exames de especialidade).

Minha abordagem integra também os princípios da medicina tradicional chinesa e a respectiva teoria dos cinco elementos (terra, metal, água, madeira e fogo.

A dificuldade em adormecer pode estar relacionada, por exemplo, com um excesso de preocupação e pensamento, tendo correspondência com um desequilíbrio do baço (elemento terra). Já o fato de acordar várias vezes durante a noite pode ter origem num desequilíbrio do coração (elemento fogo).

Nesse contexto e para uma melhor análise dos desequilíbrios que poderão estar na origem de noites mal dormidas, é necessário fazer uma anamnese e conhecer a rotina diária de cada cliente, designadamente: como são suas noites de sono? Tem dificuldade em adormecer? Acorda muitas vezes durante a noite? Sente-se cansado ao acordar? Luta contra a insônia? Tem um horário de sono inconstante? Acorda durante a noite sempre na mesma hora? Tem pensamentos acelerados na hora de dormir? Quais são os seus hábitos alimentares? Costuma comer antes de deitar? Que patologias tem? Está fazendo algum tipo de tratamento? Como estão suas emoções? Como estão sua intuição e sua relação com o meio exterior?

Essa análise irá permitir a definição das áreas reflexas (correspondentes a órgãos/glândulas/sistemas) mais adequadas a estimular, de acordo com as características da pessoa, para obter um sono abençoado e restaurador e para manutenção de uma vida mais sincronizada com a natureza.

É comum trabalhar as áreas reflexas dos órgãos diretamente relacionados com o sono e relaxamento, como o cérebro, a glândula pineal, as glândulas adrenais, o nervo vago, o plexo solar, o diafragma e a coluna. Mas também são trabalhados os órgãos/glândulas/sistemas que podem estar em desequilíbrio e contribuindo para uma má qualidade do sono, como por exemplo o sistema digestivo.

Em uma sessão, a pessoa logo sente relaxamento, o que é ótimo para que o organismo dê início ao seu processo de autorregeneração e homeostasia. Deve-se referir ainda que o relaxamento contribui para aliviar situações de ansiedade e estresse, que muitas vezes são também causadoras de problemas no sono e/ou consequências deles.

Existem estudos científicos que demonstram de fato os benefícios e a eficácia da reflexologia podal no tratamento de desequilíbrios no sono.

Pessoalmente, verifiquei que com a realização de cerca de seis sessões de reflexologia, clientes que sofriam de insônia viram o seu sono tornar-se mais regular e sem interrupções, além de sentirem mais energia e melhor disposição durante o dia.

Num dos casos, a cliente queixava-se inicialmente de excesso ponderal, mas também não dormia bem. Acordava durante a noite, não conseguindo voltar a adormecer. Durante o dia, ficava cansada e com pouca energia. Decidimos começar por tratar o sono, uma vez que este poderia estar gerando desequilíbrios no sistema digestivo e metabólico. A cada sessão de reflexologia, a cliente relaxava cada vez mais e o sono ia melhorando, até que ela voltou a dormir durante horas seguidas “como um anjo”, após seis sessões. Durante o dia, passou a sentir-se mais motivada e com vontade de realizar atividades, designadamente exercícios que a ajudarão a emagrecer.

Conhecer a rotina do dia a dia dos clientes e promover a eventual e necessária alteração para hábitos diários mais equilibrados, saudáveis, relaxados e prazerosos é um tema importante para assegurar um tratamento eficiente e eficaz.

Na reflexologia, tem-se uma visão holística, tratando-se a pessoa como um todo. Para além do tratamento de patologias, a reflexologia é uma ótima ferramenta de prevenção e da arte de cuidar. É uma terapia natural, segura, delicada e efetiva, sendo bastante positiva a sua integração com outras terapias e/ou tratamentos convencionais, para promover a saúde e o bem-estar.


Raquel Dora Pinho – Terapeuta de Reflexologia e coordenadora do ICR – International Council of Reflexologists, em Portugal.